quarta-feira, 21 de abril de 2021

DO CPF AO CNPJ E VICE-VERSA

                                UMA AVENTURA DE EMPREENDEDORISMO 


Na prática trabalhamos anos buscando o capital para iniciarmos uma empreitada, tirando aquele plano do papel e assumindo riscos com o tão sonhado negócio próprio; onde boa parte das empresas já nascem endividadas, não sobrevivem aos dois primeiros anos e não prevêem o custo de oportunidade de seus empreendedores que se empenham 10, 12, 14 horas diárias para que seu negócio consiga se manter num mercado cada vez mais concorrido e não é raro não ser remunerado por esses esforços ao fechar o mês; isso por que na prática a teoria é diferente.

Lembro de um profissional de educação física, aluno do MBA onde eu lecionava, ter me convidado pra um “almoço tira-dúvidas”, cujo tema principal era abrir ou não o negócio próprio.  Sem formalidades fomos aos questionamentos:

Quais as suas reservas? R.: “Em torno de R$45.000,00.”

Onde você trabalha e capta/converte seus clientes? R.: “Em uma academia perto de casa que tem bom fluxo de pessoas.”

Quanto consegue capitalizar por mês? R.: “Entre R$6.000,00 e R$8.000,00.”

Qual o total de suas despesas/custos mensais? R.: “Entre R$4.000,00 e R$5.000,00.”

Qual a sua motivação para abrir o negócio próprio? R.: “Tenho uma boa demanda por meus serviços e me sinto preparado pra essa empreitada. Os clientes me encorajam e minha esposa seria minha sócia no negócio... Quero fazer diferente.”

Onde seria e qual o investimento necessário para abrir esse negócio próprio? R.: “Próximo de casa, com minhas reservas acredito que consiga preparar o local ou tomaria um empréstimo bancário que quitaria com o lucro.”

Qual seria o custo fixo dessa empresa (Aluguel, Funcionários, IPTU, Luz, Água/esgoto, honorário contador, Impostos...)? R.: “Ainda não fiz esses cálculos.”

Quanto você cobraria por seus serviços? R.: “O mesmo valor que cobro hoje.”

Quantas horas você trabalha por dia e quantas pretende trabalhar em seu negócio? R.: “Em média 10 horas por dia com intervalos de duas ou três horas dependendo do dia e dos clientes de personal que atendo. Pretendo manter esses horários ou algo em torno disso.”

Após todas essas perguntas e mais algumas, sugeri que amadurecesse o plano e elevasse suas reservas a pelo menos o dobro para voltar a pensar nessa empreitada. Na época um profissional do mesmo segmento capitalizava em média R$2.000,00 por mês; enquanto ele conseguia até quatro vezes esse montante; comprovando que estava em outro patamar. Embora suas reservas não comprovassem os números que me passou, pois, alguém que possui sobra de caixa de R$4.000,00/mês e o montante de suas reservas são R$45.000,00; ou está a menos de um ano colhendo esses resultados ou não registrou os números corretamente. E que além do caixa baixo ele deveria considerar o custo de oportunidade do seu tempo a frente do negócio, pois, deveria somar os custos e despesas do negócio aos R$8.000,00 que ele conseguia capitalizar por mês e ainda somar a remuneração de sua esposa que dividiria o trabalho e os riscos da empreitada com ele; e que fora isso deveria manter em caixa pelo menos três vezes o custo fixo mensal a título de capital de giro para que recorresse a ele se houvesse necessidade. Sugeri que estudasse melhor os números e os adequasse a sua realidade com maiores reservas e conhecimento do que poderia enfrentar caso os resultados não fossem tão otimistas quanto ele imaginava.

Ao final do almoço retornamos a sala de aula e vida que segue.

Tempos depois o nosso aspirante a empreendedor me contatou para um orçamento e o questionei sobre o negócio e sua vida profissional. Ele me narrou que optou pela abertura da empresa e das diversas dificuldades que enfrentou. Que parte dos clientes que ele contava como certos não migraram para lá e que os custos superaram a receita. Chegava  a trabalhar mais de doze horas por dia, nas mais diversas atividades como recepção, manutenção e limpeza além das aulas, inclusive nos finais de semana. Que teve que encerrar o negócio por falta de verba e motivação e que o desgaste abalou sua relação e o casamento não vingou. “Acabou o milho, acabou a pipoca.”

Voltou a ofertar seus serviços a empresa onde trabalhava, retornando com praticamente metade dos horários de antes e buscando reaver os serviços de personal trainer que complementavam sua remuneração anteriormente.

 “Eu era feliz e não sabia.”

Não sou a favor de culpar a sorte, o destino, os políticos ou o alinhamento dos planetas. Penso que até onde a vista alcança devemos prever as dificuldades e nos preparar para elas.  Avaliar friamente os números e projetá-los com isenção. Analisar a concorrência e ouvir a opinião de um profissional que esteve ou está na arena de frente aos “leões”.  A vida é feita de escolhas e após isso, a sorte está lançada e dependerá diretamente de sua capacidade de ação, reação e adaptação.

 

 

Bons negócios e boa sorte.

Celso Cunha

Consultor e Educador Financeiro. CRA RJ 20-68345-6

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